O excesso de peso e obesidade são atualmente considerados uma epidemia global com graves implicações individuais e sociais.
Hábitos alimentares inadequados e sedentarismo constituem fatores de risco para tal epidemia e para algumas doenças crónicas (e.g., diabetes). Uma dieta não saudável inclui a ingestão excessiva de açúcares simples (açúcares adicionados aos alimentos e bebidas pelos produtores, cozinheiros ou consumidores) que adiciona energia na ausência de valor nutricional. A este consumo excessivo associam-se múltiplos problemas de saúde (e.g., excesso de peso; doenças periodontais).
Estudos recentes indicam a prevalência alarmante de excesso de peso e obesidade em Portugal.
Mais de 95% da população excede o limite de ingestão de açúcar recomendado pela OMS (inferior a 10% do total da energia diária ingerida), salientando a necessidade urgente de abordar este problema.
Apesar da implementação de medidas governamentais (e.g., impostos acrescidos para bebidas açucaradas), a redução generalizada do consumo de açúcar está longe de ser alcançada.
Embora as pessoas priorizem o teor de açúcar nas tabelas de informação nutricional, reportam um conhecimento reduzido acerca das fontes e recomendações sobre ingestão de açúcar.
Enquanto alguns produtos processados são facilmente identificados como fontes de açúcar, outros a fonte de açúcar é menos evidente (e.g., produtos não percebidos como doces, ketchup). Em geral, a compreensão das principais fontes e teor de açúcares livres é confusa e permeável a interpretações erradas (e.g., mais de 150 nomenclaturas para açúcares).
A literatura tem sugerido que a perceção e decisão alimentar são fortemente influenciadas por respostas automáticas a pistas contextuais (e.g., rotulagem). Por exemplo, se uma afirmação (claim) é interpretada como sinalizando que o produto é saudável, influencia a ingestão alimentar, e a consulta de informação nutricional é menos provável. A salubridade percebida do alimento é também determinada por fatores cognitivos (e.g., crenças e estereótipos acerca da comida, marca e informação nutricional) e fatores motivacionais (e.g., foco de promoção vs. prevenção).
Objetivo
Este projeto adota uma abordagem multimétodo para examinar os hábitos alimentares e conhecimento objetivo acerca do teor de açúcar dos alimentos e como esta informação é processada; investiga também experimentalmente fatores contextuais (e.g., rotulagem do teor de açúcar) e individuais (e.g., atitudes, foco regulatório) subjacentes à perceção e consumo de diferentes tipos de alimentos processados com elevado teor de açúcar.
Os resultados serão relevantes para compreender o problema atual da ingestão excessiva de açúcar e desenvolver intervenções baseadas em evidência para lhe dar resposta. Este projeto aborda os açúcares livres, porém o seu racional e metodologias podem ser aplicados a outros nutrientes associados à má nutrição (e.g., sal, gordura), bem como a outras populações (e.g., crianças).